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A reflexão política é como uma estafeta onde o testemunho são as ideias.
Este espaço é dedicado a transmitir as ideias e as palavras dos outros.
Patrick Viveret: para salvar a Europa e o planeta
A democracia e a paz, os dois valores centrais sob os quais se constituiu a União Europeia, estão hoje ameaçadas. Entramos numa situação de emergência democrática, precisamente porque a lógica financeira não é mais capaz de conviver duas grandes características da democracia: por um lado, o tempo; por outro, a pluralidade e a diferença de opiniões.
"A democracia é, por excelência, a etapa na qual a humanidade deve fazer a experiência da alteridade"
(Patrick Viveret)
A pluridade humana, condição básica da acção e do discurso, tem o duplo aspecto da igualdade e diferença. Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus antepassados, ou de fazer planos para o futuro e prever as necessidades das gerações vindouras. Se não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram, existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da acção para se fazerem entender. Com simples sinais e sons poderiam comunicar as suas necessidades imediatas e idênticas.
Ser diferente não equivale a ser outro - ou seja, não equivale a possuir essa curiosa qualidade de «alteridade», comum a tudo o que existe e que, para a filosofia medieval, é uma das quatro características básicas e universais que transcendem todas as qualidades particulares. A alteridade é, sem dúvida, um aspecto importante da pluralidade; é a razão pela qual todas as nossas definições são distinções e o motivo pelo qual não podemos dizer o que uma coisa é sem a distinguir de outra.
Na sua forma mais abstracta, a alteridade está apenas presente na mera multiplicação de objectos inorgânicos, ao passo que toda a vida orgânica já exibe variações e diferenças, inclusive entre indivíduos da mesma espécie. Só o homem, porém, é capaz de exprimir essa diferença e distinguir-se; só ele é capaz de se comunicar a si próprio e não apenas comunicar alguma coisa - como sede, fome, afecto, hostilidade ou medo. No homem, a alteridade, que ele tem em comum com tudo o que existe, e a distinção, que ele partilha com tudo o que vive, tornam-se singularidades e a pluralidade humana é a paradoxal pluralidade dos seres singulares.
(Hannah Arendt)
À medida que a recessão se prolonga, tenho dado por mim a ouvir amiúde uma bela canção da década de 1980 cantada por Peter Gabriel e Kate Bush. A canção tem como cenário um tempo e um lugar não identificados, marcados pelo desemprego em massa; a voz masculina desesperada canta o seu desencanto total: «Para cada emprego, tantos homens.» Mas a voz feminina encoraja-o; «Não desistas.»
Estamos a viver tempos terríveis, mais terríveis ainda porque toda esta crise é completamente desnecessária. Mas não desistam: podemos pôr fim a esta depressão se pelo menos conseguirmos encontrar a clareza e a vontade para tal.
(Krugman, 2012)